O filme “O Pequeno Príncipe” é um musical baseado na obra de Antoine de Saint-Exupéry, dirigido por Stanley Donen, cuja gravação ocorreu em 1974. Em seu elenco estão Richard Kiley (piloto), Steven Warner (Pequeno Príncipe), Bob Fosse (Cobra), Gene Wilder (Raposa), Joss Ackland (Rei), Donna McKechnie (Rosa), Victor Spinetti (Historiador) e Graham Crowden (General).
O filme conta a história de um aviador perdido no deserto do Saara e um garotinho que veio de um lugar distante. O aviador, que cresceu cercado por adultos, um dia desenhou uma jibóia que havia engolido um elefante, porém os adultos diziam que era um chapéu. Por diversas vezes testou o grau de lucidez das pessoas mostrando o seu desenho e todas diziam a mesma coisa: que era um chapéu. Para ele o desenho era “uma obra-prima”, mas para os adultos era motivo de chacota. Foi assim que desistiu do sonho de ser pintor e tornou-se piloto de avião, se transformando em um adulto solitário e sem amigos. Para ele ser adulto é se corromper por poder, dinheiro, golfe e política.
Após sua aeronave ter sofrido uma pane em pleno deserto, o piloto é interceptado pelo menino que lhe pede: “Desenha-me um carneiro?” e assim o garotinho insiste até que o aviador mostrou-lhe o seu desenho. O Pequeno Príncipe então disse que não queria um elefante engolido por uma jibóia e sim um carneiro. Ele teve dificuldades para fazer o desenho, pois foi desencorajado de desenhar quando era criança. Depois de tentar várias vezes, teve a idéia de desenhar uma caixa e disse que o carneiro estava dentro dela. Para surpresa do aviador, o menino de cabelos dourados aceitou o desenho. O motivo pelo qual o Pequeno Príncipe queria um carneiro era para comer os baobás que insistiam em nascer no seu planeta, que era do tamanho de uma casa. A partir de então, o menino pergunta sem parar e o diálogo flui entre os dois. Começa, então, o relato das fantasias do Pequeno Príncipe que questiona as coisas simples da vida, o qual mora num pequeno planeta que possui três vulcões, sendo um inativo. Sua companhia é uma flor orgulhosa e vaidosa que ele cuida com todo carinho. Cansado do egoísmo de sua flor, um dia ele resolve partir em busca de conhecimento e respostas e faz uma jornada por vários planetas habitados por apenas uma pessoa (até chegar a Terra).
Em sua aventura pelas galáxias ele conhece diversos personagens inusitados, como um rei que gosta de dar ordens e que vive num planeta cheio de fronteiras, um empresário muito ocupado que só quer ser cada vez mais rico, um historiador que “inventa” histórias e um general que não conhece nada além de si mesmo.
Ao chegar a terra ele se encontra com a serpente, a qual descreve a terra como estúpida, esdrúxula e fétida, um lugar horroroso, e o incentiva a ir embora. Seguindo em sua caminhada, o Pequeno Príncipe encontra um jardim de rosas iguais à sua flor que deixou em seu planeta, mas conclui que embora existam milhares de rosas parecidas com a sua, ainda assim ela era única e especial, pois era a “sua rosa”. Mais à frente ele encontra a grande personagem da história, a raposa, com a qual aprendeu o verdadeiro sentido da palavra “cativar”. A raposa ensina ao principezinho o que é o amor e a amizade, que pode se sintetizar na frase confidenciada como um segredo: “Só vemos bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos”.
Por fim, o Pequeno Príncipe se encontra com o aviador que, em princípio, como qualquer adulto, havia perdido o encantamento pelas coisas simples da vida. Mas que, encorajado pelo espírito ingênuo do garoto, volta a acreditar que é possível sonhar e amar.
O filme não é somente para crianças, como aparentemente o nome sugere. É uma obra que aborda, de forma profunda, os conflitos e os desafios que o mundo adulto nos impõe.
Os personagens que o Pequeno Príncipe encontra ao longo da sua jornada o faz concluir o quanto amava a sua rosa e o quanto o seu planeta era importante.
As experiências vivenciadas pelo Pequeno Príncipe nos mostram que ao longo de nossa existência nos deparamos com diversos tipos de mazelas sociais, representadas no filme pelos personagens e seus “mundinhos” e pela serpente. Entretanto, não podemos ter medo de conhecê-las e explorá-las uma vez que cada situação vivenciada é mais uma lição aprendida, ou seja, “aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós."
Dentre os personagens destacam-se o rei, que embora solitário, vive dando ordens para que ninguém ultrapasse as fronteiras, o que representa posturas extremamente autoritárias, cujas conseqüências são nefastas para a humanidade. A serpente por sua vez, representa a mentira, a maledicência, a opinião desencorajadora, a dúvida e a morte. Todos eles representam de alguma forma o mundo adulto, no qual se vive de aparências e preocupados consigo mesmo. E, quando questionados o porquê das coisas respondem: “você ainda é uma criança”, ou seja, um mundo desprovido de pureza, amor e amizade.
O filme nos faz refletir sobre o quanto nos equivocamos ao avaliar as pessoas, ao nos preocuparmos com nossas atividades cotidianas, as quais nos tornam cada vez mais solitários e infelizes. Como o aviador, nos tornamos adultos de forma definitiva e esquecemos da criança que fomos. Com o passar dos tempos perdemos a capacidade de ver além das coisas, vemos superficialmente. Pois, tudo que inicialmente parecem ser, muitas vezes não são o que pensamos nem o que vemos. Assim, o aviador aprendeu a ver além das aparências e dar valor às pequenas coisas como contemplar as estrelas, admirar a beleza de uma flor, apreciar o pôr-do-sol.
Nesse sentido a obra nos ensina que devemos mudar nossos valores, que a vida é bem mais simples do que parece, que devemos dar importância ao essencial. O mundo do Pequeno Príncipe é apresentado de forma tão pequena justamente para representar que não precisamos de muita coisa para sermos felizes.
Outra lição aprendida é a da amizade, a qual foi representada pelo encontro com a raposa. Esta ensinou ao Pequeno Príncipe que esquecemos o que é cativar, que a vida apressada nos faz esquecer as pequenas coisas da vida, que não queremos perder tempo em conquistar a amizade e o carinho das pessoas. Com a raposa aprendemos amar verdadeiramente, o amor incondicional que faz com que aceitemos o outro da forma como ele verdadeiramente é, com seus defeitos e qualidades, que só com o coração podemos ver claramente, pois o que é essencial é invisível aos olhos. O Pequeno Príncipe descobriu o quanto amava a sua rosa, apesar dos seus defeitos, e concluiu que era responsável por ela, pois a tinha cativado. Também podemos associar as lições da obra à educação ambiental. O Pequeno Príncipe ensina que a responsabilidade exigida pelo relacionamento com os outros leva a uma maior compreensão e apreciação da nossa responsabilidade com o mundo em geral. Vivemos num mundo sem fronteiras, social e tecnologicamente falando. Também é universal o amor. Só através do amor é possível haver mudanças.
As crianças aprendem o que vivenciam. Os jardins da alma infantil são férteis e receptivos aos ensinamentos que percebem nas ações dos adultos. Como o Pequeno Príncipe fazia com os baobás (que eram cortados enquanto jovens), também devemos cortar os maus hábitos desde cedo.
O amor deve ser ensinado desde pequeno, mais do que ensinar a cultivar plantas e cuidar do meio ambiente, devemos ensinar a cultivar virtudes. Entre uma conversa e outra, entre a carícia numa flor e uma erva daninha arrancada temos de plantar virtudes nos corações infantis. Também devemos manter a pureza infantil e ver além das aparências, ver com o coração, dar o exemplo, afinal não podemos dar aquilo que não temos. É mais pela observação de nossos atos que os pequenos vão formando suas próprias convicções.
O filme é de uma riqueza de aprendizado impressionante, o que o torna indicado como ferramenta para educação ambiental.
É possível ser trabalhado de forma a atingir todos os tipos de público, através de teatro infantil, jogos educativos envolvendo os personagens, oficinas de trabalhos de reciclagem, etc.
Assim, podemos concluir que só através da disseminação do respeito e amor ao próximo, o qual aqui representando tudo o que nos rodeia, é possível criar um círculo virtuoso capaz de estancar todo o mal que nós, humanos, causamos a nós mesmos e ao meio ambiente.
Autora: Marlene F. Cruz. Servidora Pública, pós-graduanda em Gestão Ambiental. 2010